Belém do Pará, Brasil. No coração da Amazónia, terra do açaí mundialmente famoso, milhares de pessoas reúnem-se para a Cimeira do Clima das Nações Unidas — mais conhecida como COP — que decorre de 10 a 21 de novembro. A 30.ª edição da Cimeira assinala uma década desde a criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um marco importante que não pode passar despercebido, especialmente tendo em conta o estado atual dos Objetivos: ainda longe de serem alcançados, com apenas cerca de 17% das metas em vias de ser cumpridas até 2030.

A COP30 enfrentou críticas logo desde o início devido a projetos de infraestruturas em Belém e ao preço do alojamento, que aumentou de forma acentuada e indiscriminada. As preocupações com o custo de participação já foram expressas por vários países, destacando desafios logísticos e financeiros mesmo antes do início da conferência.

Num momento em que o mundo enfrenta uma série de crises prementes — desde guerras e instabilidade política até à desaceleração económica e à intensificação de fenómenos meteorológicos extremos — vale a pena perguntar: o que esperamos realmente deste encontro? Que resultados positivos podem, de forma realista, emergir de Belém?

Uma das principais expectativas é que os países apresentem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) novas ou atualizadas, que reflitam ambições de redução de emissões mais compatíveis com as metas do Acordo de Paris.

Dada a localização do evento, a floresta surge também como um ponto central na agenda, com um peso simultaneamente simbólico e substancial. A principal expectativa é um compromisso coletivo com um calendário claro para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, novas metas para as energias renováveis e a eficiência energética, e um plano robusto de conservação e restauração florestal.

O debate sobre o financiamento climático também ocupará um lugar central em Belém, não só para acelerar a mitigação, mas para garantir que os países mais vulneráveis possam adaptar-se aos impactos já inevitáveis das alterações climáticas. Espera-se que a COP30 defina um novo objetivo global de financiamento climático pós-2025, apoiado por mecanismos claros de transparência e por fundos destinados a perdas e danos. Mais do que uma questão económica, trata-se de uma questão de justiça climática: reconhecer a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos e assegurar que as comunidades afetadas tenham tanto voz como recursos para se adaptar e resistir.

Espera-se o anúncio de novos compromissos de financiamento por parte dos países doadores, maior clareza quanto ao novo objetivo coletivo quantificado (NCQG) para o período pós-2025 e estruturas mais sólidas de transparência e responsabilização.

Outro ponto que está a chamar a atenção nesta edição é a ausência de vários líderes mundiais chave nas negociações da COP30. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que defende uma agenda cética em relação ao clima, optou por não comparecer à cimeira, levantando dúvidas sobre a disposição dos EUA para cooperar nos esforços globais de mitigação. O Presidente da China, Xi Jinping, e o Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, também não estarão presentes, tendo delegado a participação aos respetivos ministros do Ambiente. Mesmo o Primeiro-Ministro do Canadá, Mark Carney, não comparecerá, deixando a sua delegação conduzir as discussões em seu lugar. A ausência coletiva destes líderes — que representam quatro dos maiores emissores de gases com efeito de estufa do mundo — lança uma sombra sobre o peso político da conferência e levanta dúvidas sobre se as decisões tomadas em Belém terão força suficiente para impulsionar uma mudança global.

Em contraste com a ausência de algumas potências globais, o Brasil procurou afirmar uma liderança moral e política forte na COP30. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou a cimeira como uma oportunidade para passar “da negociação à implementação”, sublinhando a necessidade de concretizar os compromissos climáticos em vez de formular novas promessas. Uma das iniciativas emblemáticas de Lula, o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), foi oficialmente lançada em Belém, com o apoio de mais de 50 países e um compromisso inicial superior a 5,5 mil milhões de dólares. A iniciativa visa tornar a conservação das florestas mais rentável do que a desflorestação, criando um mecanismo financeiro de longo prazo que recompensa os países por manterem as florestas tropicais de pé. Esta iniciativa reflete a visão mais ampla de Lula para a COP30: integrar clima, natureza e finanças numa agenda global única, promovendo simultaneamente a justiça para os países em desenvolvimento e para as comunidades indígenas.

Paralelamente ao TFFF, a presidência brasileira procura reforçar os quadros de transparência, responsabilização e implementação, garantindo que a COP30 deixe um legado de progresso tangível, e não apenas declarações políticas. O chamado “Pacote de Belém”, adotado sob a presidência brasileira, sintetiza este esforço ao integrar governação, responsabilização e coerência entre mitigação, adaptação, financiamento e natureza.

Apesar das grandes expectativas, há um reconhecimento realista das dificuldades que se avizinham: conflitos geopolíticos, incerteza económica e a relutância das principais economias em continuar a elevar a ambição coletiva. Ainda assim, o sentido de urgência mantém-se, e a COP30 é amplamente vista como um momento decisivo naquela que muitos chamam a “década decisiva” para a ação climática.

Em última análise, o sucesso da cimeira de Belém não será medido pelo número de discursos proferidos ou de documentos assinados, mas pela sua capacidade de gerar mecanismos credíveis de implementação — mecanismos capazes de transformar promessas em progresso mensurável, e progresso em impacto positivo.

Desejo uma semana excelente e com impacto!

 

Natália CantarinoInvestigadora no Center for Responsible Business & Leadership