Apagão ibérico: A sustentabilidade é um risco?

Center for Responsible Business & Leadership
Terça, Maio 13, 2025 - 10:15

No dia 28 de abril, um grande apagão afectou partes de Portugal e Espanha, interrompendo os transportes, as operações comerciais e as rotinas diárias. Embora a energia tenha sido restabelecida em poucas horas, o evento suscitou uma questão importante: à medida que fazemos a transição para uma energia mais verde, estamos a pôr em risco a fiabilidade do nosso sistema elétrico?


Portugal e Espanha estão entre os líderes europeus no domínio das energias renováveis. Atualmente, uma grande parte da eletricidade que consumimos provém da energia eólica, solar e hidroelétrica. Este é um passo fundamental para combater as alterações climáticas e reduzir a nossa dependência dos combustíveis fósseis. Mas o apagão foi um lembrete: embora as energias renováveis tragam muitos benefícios, elas também introduzem novos desafios.


Ao contrário dos combustíveis fósseis, as energias renováveis dependem da natureza - e a natureza não segue um horário. Dias nublados, ventos calmos e mudanças sazonais podem afetar a quantidade de eletricidade produzida. Para manter a energia a fluir sem problemas, as nossas redes eléctricas têm de evoluir. Têm de ser mais inteligentes, mais rápidas e mais flexíveis do que nunca. É aqui que a tecnologia e os dados se tornam essenciais. Atualmente, as ferramentas digitais ajudam os operadores de rede a prever a oferta e a procura, a detetar falhas em tempo real e a equilibrar automaticamente a eletricidade entre regiões. Os sensores, os algoritmos de IA e o software avançado estão a desempenhar um papel cada vez mais importante para garantir a estabilidade dos fluxos de energia, mesmo quando as fontes de energia não o são.

Pense na rede moderna como um sistema gigante e vivo - um sistema que necessita de monitorização constante e controlo inteligente. Estão a ser recolhidas enormes quantidades de dados a cada segundo para garantir que tudo se mantém em equilíbrio. Esta camada digital é tão importante como a infraestrutura física de cabos e transformadores. Sem ela, o risco de futuros apagões aumentaria.


Mas não se trata apenas de equipamento - trata-se também de pessoas. A construção de um sistema energético sustentável e resiliente requer todo um ecossistema: empresas que desenvolvem tecnologias de ponta, indústrias que se comprometem com uma utilização flexível da energia e profissionais com as competências necessárias para que tudo isto funcione. Engenheiros, analistas, programadores de software, electricistas e decisores, todos desempenham um papel importante.


O apagão, embora perturbador, é uma oportunidade. Realça a urgência de investir não só em energia limpa, mas também em redes de energia modernas e baseadas em dados. Para Portugal e Espanha, é uma oportunidade para reforçarem a sua posição de líderes em sustentabilidade e inovação.


As indústrias devem alinhar os seus objectivos ecológicos com a fiabilidade operacional. Os fornecedores de energia devem construir sistemas mais fortes, gerindo simultaneamente a crescente complexidade. E a sociedade deve apoiar esta transição com sensibilização, educação e planeamento arrojado. O caminho para a sustentabilidade não é uma linha reta. Mas com a combinação certa de tecnologia, dados, parcerias e talento humano, podemos construir sistemas de energia que sejam limpos, inteligentes e suficientemente fortes para alimentar o nosso futuro.

Afinal de contas, a sustentabilidade não é um risco - é uma responsabilidade. E se for bem feita, pode ser um dos nossos maiores pontos fortes.

Tenham uma óptima e impactante semana!

Luis Marçal
Chefe nacional de negócios de infraestrutura inteligente da Siemens