À medida que nos aproximamos do prazo de 2030, o Relatório sobre o Desenvolvimento Sustentável 2024, publicado em junho de 2025, oferece uma verificação da realidade desafiante mas necessária. De acordo com o relatório, não estamos no bom caminho para alcançar os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O progresso global estagnou desde 2020 e apenas 17% dos objectivos estão em vias de ser cumpridos a nível mundial.
Muitos países estão a assistir a retrocessos alarmantes, especialmente nos objectivos relacionados com a desigualdade, a biodiversidade e a ação climática. Por outro lado, a maioria dos países membros da ONU fez grandes progressos nos objectivos relacionados com o acesso a serviços e infra-estruturas básicos, incluindo a utilização da banda larga móvel e da Internet, o acesso à eletricidade e as taxas de mortalidade neonatal e de menores de 5 anos.
O relatório destaca sinais promissores de envolvimento institucional e mobilização das partes interessadas, especialmente onde as políticas públicas e as iniciativas privadas convergem. Também se centra na importância de criar uma nova estrutura financeira para financiar o desenvolvimento.
Neste contexto, é imperativo perguntar: O que vem depois de 2030? O que acontece se não atingirmos os Objectivos? Este importante debate visa lançar luz sobre a importância de manter as ambições dos Objectivos estabelecidos em 2015, mas reavaliar a forma como podem ser operacionalizados e comunicados. Para serem reavivados, os ODS devem refletir melhor a dinâmica do mundo empresarial e as oportunidades tangíveis para a liderança do sector privado. Afinal de contas, as empresas não são apenas executoras de agendas públicas - são motores de inovação, investimento e transformação sistémica.
Ao longo dos últimos três anos, através do Observatório dos ODS nas Empresas Portuguesas, temos identificado consistentemente uma barreira crítica na adoção dos ODS pelo sector privado: a linguagem da própria Agenda 2030. Muitas empresas reconhecem a importância dos ODS, mas lutam para os traduzir em acções empresariais concretas. A narrativa atual, muitas vezes enquadrada em termos amplos e técnicos, cria uma distância entre a agenda global e as realidades empresariais do dia a dia, para todos os tipos de empresas.
É por isso que o período pós-2030 deve ser visto como uma oportunidade para redesenhar a agenda do desenvolvimento sustentável com uma linguagem mais acessível, prática e orientada para as empresas, tendo em conta o poder transformador que estas detêm. A ambição deve permanecer elevada, mas as empresas precisam de orientações mais claras sobre o que podem fazer e como podem medir e comunicar as suas contribuições de forma significativa.
Aqui, vemos uma oportunidade estratégica: articular os ODS com as Normas Europeias de Relato de Sustentabilidade (ESRS), desenvolvidas ao abrigo da Diretiva de Relato de Sustentabilidade Empresarial (CSRD). Estas novas normas obrigatórias de relato oferecem um quadro concreto e quantificável que pode ajudar as empresas a compreender, estruturar e divulgar o seu desempenho em matéria de sustentabilidade, tornando simultaneamente visível o seu alinhamento com os ODS. Ao estabelecer pontes entre as metas dos ODS e os indicadores das ESRS, criamos um caminho mais claro da intenção à ação e permitimos que as empresas compreendam melhor o impacto das suas actividades e estratégias.
O futuro da Agenda 2030 - ou de qualquer quadro que lhe suceda - depende da nossa capacidade colectiva de aprender e de nos adaptarmos. Rever os ODS não significa enfraquecê-los; significa capacitá-los com melhores ferramentas, uma linguagem mais clara e parcerias mais fortes. O sector privado deve estar no centro desta agenda global renovada - não como espetador, mas como cocriador de soluções.
Vamos continuar esta conversa. Junte-se a nós no dia 10 de julho para um webinar especial onde discutiremos o futuro dos ODS e como as empresas podem assumir um papel de liderança na definição da próxima agenda de desenvolvimento global. Registe-se gratuitamente aqui.
Tenha uma óptima e impactante semana!
Natália Cantarino
Gestora de Operações e Investigadora do Center for Responsible Business