“A inteligência artificial generativa tem um traço disruptivo, cujo impacto, paradoxalmente, está pouco presente na discussão.”

A inteligência artificial generativa, sendo uma das tecnologias mais transformadoras do nosso tempo, tem um traço disruptivo, cujo impacto, paradoxalmente, está pouco presente na discussão. Pela primeira vez, qualquer pessoa — e não apenas especialistas em dados ou tecnologia — tem nas suas mãos o potencial da inteligência artificial, por esta utilizar linguagem natural.

Esta acessibilidade revolucionária coloca as organizações perante um desafio competitivo ao qual têm, urgentemente, de dar resposta: como podem tirar partido de uma tecnologia que se democratiza a uma velocidade nunca vista, e cujo impacto é função da forma como as equipas pensam, colaboram, experimentam e aprendem?

Há quem responda que a sua empresa ainda não está preparada. Que será preciso, primeiro, consolidar sistemas, tratar os dados, ou desenvolver competências específicas. E há quem diga que, primeiro, será necessário assegurar uma transformação cultural para aproveitar o potencial da IA. Mas, e se for precisamente o contrário? E se a experimentação com IA generativa — em pequena escala e em ambiente controlado — for essencial para catalisar a transformação desejada?

É o que vemos acontecer nas organizações que já avançaram. Uma pequena equipa de operações, num projeto-piloto limitado a um departamento, experimenta usar IA para reduzir o tempo de resposta a pedidos internos — e descobre uma nova forma de colaborar entre áreas. Uma unidade comercial recorre à IA para preparar as reuniões com os seus clientes — e obtém, em segundos, insights que antes exigiam dias. Um grupo de marketing utiliza a IA para gerar conceitos criativos e protótipos rápidos — e antecipa semanas de trabalho. Em comum, estes casos partilham dois fatores: impacto real e aprendizagem coletiva. E os estudos começam a confirmar esta correlação: as organizações com culturas mais inovadoras estão a obter maior retorno da aplicação da IA generativa.

São pequenos passos que geram movimento. E esse movimento exige mais do que tecnologia. Exige uma nova forma de trabalhar — mais ágil, mais empática, mais centrada na experimentação. Exige, por exemplo, a capacidade de juntar pessoas de diferentes áreas, com foco num desafio concreto, para desenhar, testar e aprender em ritmo acelerado. E é essa prática, materializada por exemplo em design sprints, que pode tornar a organização mais preparada para explorar o potencial da IA — de forma real, tangível e transversal.

Porque no final, a verdadeira inteligência não está só no algoritmo. Está na organização que sabe aprender com ele. Está na cultura que valoriza a experimentação. Está na liderança que desafia o imobilismo. Está nas equipas que se atrevem a testar, a iterar, a fazer diferente. E está, sobretudo, nas pessoas que reconhecem que esta revolução lhes diz respeito — e que por isso escolhem fazê-la.

A inteligência pode ser artificial. Mas a transformação é humana e organizacional. Mudar o algoritmo implica mudar o chip.

Tiago Luís, Diretor do Programa Executivo Disrupt through Design Sprints and AI na CATÓLICA-LISBON