Foi apresentado na passada quarta-feira, dia 21 de maio, em Lisboa, no evento “Desporto Hoje: Testar os Limites”, o estudo “Prática de Exercício Físico da População Ativa Portuguesa”, desenvolvido pela Behavioral Insights Unit da CATÓLICA-LISBON para o BNP Paribas. Esta iniciativa integrou o ciclo de conferências Challenging the Future, promovido pelo banco.
O estudo oferece uma visão aprofundada sobre os hábitos de exercício físico da população ativa portuguesa, destacando não só quando e como os portugueses praticam desporto, mas também o papel crescente da tecnologia e as particularidades das gerações mais jovens.
Entre os dados mais reveladores está o investimento familiar na atividade física dos filhos: metade das famílias com crianças (50,3%) gasta mais de 40 euros por mês em práticas desportivas para os filhos, um valor significativamente superior ao montante investido pelos próprios adultos.
Apesar de 65,1% da população ativa afirmar praticar exercício físico regularmente, a maioria prefere soluções acessíveis: 50,5% gastam até 10 euros mensais. As opções mais comuns incluem espaços ao ar livre (58,4%), treinos em casa (32,4%) e ginásios (32,9%).
As principais motivações para a prática de exercício físico são a promoção da saúde física (30,3%), o controlo de peso (19,3%) e a gestão do stress (16,6%). Mas o impacto emocional é igualmente valorizado: 85,3% consideram que o exercício físico contribui de forma importante ou muito importante para o bem-estar psicológico.
A frequência mais comum da prática situa-se entre duas a três vezes por semana, sobretudo ao final da tarde (50,7%), com uma maioria a praticar sozinha (56,6%). Entre os que não praticam, os principais obstáculos são a falta de tempo (27,3%), de energia (28,6%), de interesse (25,7%) e de companhia (15,3%).
O ginásio é a atividade mais referida (31,2%), seguida pela corrida e pelas práticas de yoga/pilates. O estudo também identificou diferenças relevantes entre géneros: os homens referem mais frequentemente motivações como lazer e superação, enquanto as mulheres apontam como barreiras principais o desconforto físico, a falta de energia e as questões financeiras.
Relativamente ao uso da tecnologia, mais de metade dos inquiridos (54,6%) utiliza dispositivos eletrónicos na sua prática desportiva. Os mais comuns são o telemóvel (62,3%), smartwatches (57,5%) e auscultadores (41%). Estes dispositivos são utilizados sobretudo para monitorizar o desempenho (70,4%), ouvir música ou podcasts (56,8%) e acompanhar métricas de saúde e performance.
A tecnologia é ainda apontada como um fator de motivação (72,2%) e personalização do treino (51%). Entre os utilizadores de wearables, quase metade (47,7%) refere que se sente mais segura ao praticar desporto com auxílio tecnológico, graças à monitorização da saúde em tempo real (73,3%), às apps de treino inteligente (39,6%) e à geolocalização (29,1%).
No que toca às gerações mais novas, o estudo revela que 73,9% dos filhos dos inquiridos praticam desporto com regularidade. As modalidades mais escolhidas são a natação (42,5%), o futebol (33,8%), a musculação (14,5%) e as artes marciais (13%). A maioria das crianças treina pelo menos duas vezes por semana, preferencialmente em clubes desportivos (62,8%) e ginásios (29%).
A apresentação dos dados do estudo foi complementada por uma mesa-redonda que reuniu diferentes perspetivas sobre o papel do exercício físico na vida dos portugueses. Moderada por Pedro Ribeiro, Diretor de Programas da Rádio Comercial, a conversa contou com a participação da atleta olímpica Patrícia Mamona, da Psicóloga clínica, especialista em Psicologia do Desporto e Performance, Ana Bispo Ramires e de Pedro Carvalho, Presidente da Academia dos Champs.
Para Patrícia Mamona, os dados são um sinal claro de mudança: “Hoje temos 62% da população ativa a praticar desporto. Há 20 anos, os números eram praticamente inversos. Como desportista, sinto orgulho em ver que há, de facto, uma intenção coletiva para a prática de atividade física”. No entanto, a atleta alertou para os perigos da cultura da rapidez e do imediatismo: “Estamos a formatar as pessoas para resultados rápidos, mas um atleta de alta performance pode levar 20 anos a preparar-se. Temos de educar para o valor do processo, da consistência e da resiliência”.
Ana Bispo Ramires reforçou esta ideia, sublinhando o impacto direto do exercício físico na saúde mental: “A prática física é dos maiores contributos para a saúde mental. É uma ferramenta poderosíssima”. A psicóloga destacou ainda a importância da educação física como porta de entrada para a construção de hábitos consistentes ao longo da vida: “As pessoas muitas vezes aproximam-se do desporto por moda, mas é a consistência que faz a diferença. E essa consistência começa na escola”.
Já Pedro Carvalho trouxe a visão de quem trabalha diariamente com crianças e jovens em contextos sociais diversos, através da Academia dos Champs. Para ele, o desporto tem um poder transformador que vai muito além do desempenho físico: “O desporto pode salvar vidas. Ensina disciplina, respeito, trabalho de equipa. Tem a capacidade de construir caminhos, nivelar oportunidades e integrar socialmente. Desde que haja acesso, todos partem do mesmo ponto”.