A Semana de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas 2025, realizada em Nova Iorque este setembro, marcou um momento singular para a diplomacia global e a cooperação multilateral. Inserida no âmbito da 80.ª sessão da Assembleia Geral, a semana reuniu chefes de Estado, ministros, diplomatas, líderes da sociedade civil, académicos e representantes do setor privado para discutir as questões mais prementes da comunidade internacional. Sob o tema “Melhor juntos: 80 anos e mais de paz, desenvolvimento e direitos humanos”, o evento destacou não apenas os feitos do sistema da ONU, mas também as críticas e limitações persistentes que marcaram os seus oito décadas de existência.
No centro da Semana de Alto Nível esteve o Debate Geral, que decorreu de 23 a 29 de setembro. Mais de 150 líderes mundiais subiram à tribuna para apresentar discursos que refletiam prioridades nacionais, assim como preocupações partilhadas, incluindo alterações climáticas, desigualdade, conflitos, disrupção tecnológica e saúde global.
O debate deste ano foi particularmente intenso, dado o aumento das tensões geopolíticas e a urgência associada à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Os discursos sublinharam a tensão entre a necessidade de ação coletiva e a persistência de interesses nacionais, ao mesmo tempo que revelaram um reconhecimento crescente de que os desafios globais não podem ser enfrentados sem cooperação.
Para além do Debate Geral, a semana incluiu uma série de reuniões de alto nível e eventos temáticos. Os líderes discutiram a necessidade de revitalizar o multilateralismo numa era de fragmentação e desconfiança, enfatizando que paz, direitos humanos e desenvolvimento devem ser perseguidos de forma integrada. Ainda assim, os debates refletiram frequentemente a fragilidade do sistema atual: muitos criticaram a lentidão, a burocracia e a eficácia limitada da ONU, particularmente na prevenção de conflitos e no cumprimento dos seus mandatos.
A saúde foi outro foco central, com uma reunião de alto nível dedicada a doenças não transmissíveis e saúde mental. Os delegados aprovaram uma nova declaração política que compromete os países a reforçar políticas e recursos para prevenção, tratamento e equidade nos sistemas de saúde. No entanto, algumas vozes questionaram a distância entre declarações ambiciosas e implementação real, enfatizando o risco de repetir ciclos de compromissos não cumpridos.
O desenvolvimento sustentável manteve-se um tema transversal durante toda a semana. Várias sessões destacaram o progresso lento nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a necessidade urgente de acelerar a implementação. Governos e partes interessadas sublinharam que, a meio da Agenda 2030, muitas metas continuam fora do rumo, especialmente em áreas relacionadas com ação climática, igualdade de género e redução da pobreza.
Foram reiterados pedidos por financiamento inovador, parcerias mais fortes e sistemas de dados mais eficazes. Organizações da sociedade civil lembraram aos governos que a sua credibilidade depende da ação, e não apenas das promessas.
As crises geopolíticas influenciaram inevitavelmente o tom da semana. Conflitos em curso, instabilidades regionais e a erosão da confiança entre grandes potências foram temas recorrentes tanto em declarações públicas como em negociações privadas. A ONU foi repetidamente descrita como indispensável, mas enfraquecida — uma instituição que necessita de reforma, mas que corre o risco de ser deslegitimada por aqueles que procuram minar a cooperação multilateral. Muitos alertaram que descredibilizar a ONU poderia acelerar a fragmentação e a instabilidade, em vez de fornecer soluções.
A Semana de Alto Nível também proporcionou espaço fértil para diplomacia bilateral. Dezenas de reuniões paralelas criaram oportunidades para avançar negociações sobre comércio, segurança, assistência humanitária e financiamento climático. Grupos da sociedade civil organizaram centenas de eventos paralelos, desde fóruns de jovens a painéis académicos, ampliando o debate para além dos discursos oficiais.
Em conclusão, a Semana de Alto Nível da UNGA 2025 reafirmou tanto a importância como a fragilidade do diálogo multilateral num momento de profunda incerteza.
O evento evidenciou as contradições do sistema internacional e a necessidade urgente de reforma, mas também sublinhou que mudanças significativas devem ser estruturadas, cooperativas e cuidadosamente planeadas — não impulsionadas por crises ou por agendas daqueles que prefeririam enfraquecer as instituições internacionais.
O mundo entra num período decisivo: embora haja abertura para diálogo e multilateralismo, a ONU permanece sob pressão, e algumas declarações demonstram que nem sempre existe consenso. O desafio agora é reformar sem destruir, garantindo que a cooperação global não caia vítima das mesmas forças que pretende conter.
Desejo uma semana excelente e com impacto!
Natália Cantarino, Investigadora no Center for Responsible Business & Leadership