Durante décadas, as decisões de marketing basearam-se em intuição, experiência e feeling. Hoje, isso é simplesmente insuficiente. Num ambiente de mercado volátil e hiper conectado, navegar à vista é suicídio estratégico. As organizações que prosperam são as que transformam dados em conhecimento e conhecimento em ação.

A inteligência competitiva em tempo real deixou de ser uma vantagem — é uma condição de sobrevivência. Dashboards dinâmicos e análises preditivas são hoje o painel de controlo de qualquer gestor que pretenda antecipar tendências e ajustar-se com agilidade. Mas de nada servem toneladas de dados se estes não forem lidos à luz de critérios estratégicos. O poder está na interpretação, não na acumulação.

As empresas que estruturam a sua estratégia com base em data-driven insights conseguem compreender não apenas quem compra, mas porque compra — e isso muda tudo. Segmentar por idade ou rendimento é passado; o futuro está nos critérios granulares de comportamento, motivação e personalidade de compra. Uma PME que compreenda o que move o seu cliente — emoção, conveniência, estatuto, segurança — tem mais probabilidade de desenhar campanhas eficazes e relações duradouras.

Um exemplo simples: um retalhista online que analisa padrões de abandono do carrinho pode ajustar preços, prazos de entrega ou mensagens personalizadas e aumentar as conversões em 20%. Já quem ignora esses sinais acaba a investir em campanhas cegas e dispendiosas. O mesmo vale para a indústria financeira, onde algoritmos de predição de churn identificam clientes em risco de saída antes que estes desapareçam silenciosamente.

Por outro lado, a ausência de dados fiáveis é um convite ao desastre. Empresas que decidem com base em suposições correm o risco de investir em segmentos errados, comunicar mensagens irrelevantes ou fixar preços desalinhados. Há inúmeros casos de marcas que falharam porque não souberam ouvir o que os dados já gritavam: consumidores a mudar de canal, novas preferências emergentes, tendências locais a ganhar força.

No fundo, as perguntas críticas permanecem: quanto vale um cliente? quanto custa perdê-lo? qual o retorno real de cada ação de marketing? — perguntas simples, mas que só a análise de dados consistente pode responder. Saber que concorrente tem melhor performance e porquê, quantificar o contributo da inteligência artificial para receitas e custos, ou como medir o impacto do reposicionamento de uma marca com dados objetivos, são hoje indicadores vitais de gestão. Toda a tripla dimensão estratégica (atratividade, posição competitiva e sinergia) é quantificável. E aplicável a qualquer setor ou dimensão empresarial.

Mesmo para micro e pequenas empresas, a análise inteligente de dados é acessível e decisiva. Um simples painel de métricas sobre origens de leads, taxa de conversão, custo por aquisição e valor médio de cliente já oferece informação estratégica. Os indicadores que indiciam melhor performance não são os mais sofisticados — são os que ajudam a decidir rápido, corrigir cedo e aprender sempre.

As empresas que se habituarem a decidir com base em evidência estarão melhor preparadas para um mercado imprevisível. As que continuarem a confiar apenas na intuição, acabarão por pagar o preço do improviso.

No mundo moderno da gestão, a intuição continua a ser bem-vinda — mas apenas quando os dados confirmam que o instinto está certo.

Pedro Celeste, Professor na CATÓLICA-LISBON