Skip to main content

Poupança das Famílias

Autor: João Luís César das Neves

Assim que a economia começou a recuperar, em 2013, a nossa taxa de poupança voltou a descer, e em 2018 atingiu o mínimo histórico de 6,4%, tendo subido entretanto para apenas 6,6% em 2019.

Série: Taxa de poupança bruta das famílias e instituições sem fins lucrativos em percentagem do rendimento disponível, para os 15 países originais da União Europeia. (Descarregar ficheiro Excel)
Fonte: Base de dados AMECO, Comissão Europeia; antes de 1995 os dados para Portugal são do Relatório do Banco de Portugal, vários anos.

Um choque como o criado pela epidemia de 2020 será mais doloroso em países com uma situação financeira mais frágil. Um dos elementos basilares dessa dimensão é, sem dúvida, a taxa de poupança das famílias, que manifesta o grau de precaução dos cidadãos face ao futuro, e o cuidado que têm em assegurar um pecúlio para eventualidades como esta. O gráfico revela como na situação portuguesa a evolução foi particularmente insólita e paradoxal dentro do panorama europeu.

Antes da adesão às Comunidades Europeias, em 1986, Portugal liderava a lista em dimensão da poupança. Esse facto era, em grande medida, um sinal de subdesenvolvimento. A ausência ou menoridade da segurança social, crédito ao consumo e outros sistemas de proteção obrigava os portugueses a pouparem para se precaverem de eventualidades. O desenvolvimento do país reduziu significativamente o valor da taxa de poupança para níveis mais saudáveis e, na viragem do milénio, quando aderimos à moeda única, a poupança em Portugal estava em 13,6%, ao nível dos nossos parceiros europeus.

Só que, ao longo da primeira década do novo século, o período áureo do endividamento, a poupança continuou a descer, atingindo 7% em 2008, o ano da crise financeira mundial, um dos valores mais baixo dos 15, superior apenas à Grécia e Dinamarca. Nessa altura, a recessão gerou uma reação forte das famílias portuguesas e, no meio de enormes dificuldades, a taxa de poupança conseguiu regressar a 11% em 2009. Mas assim que a economia começou a recuperar, em 2013, a nossa taxa de poupança voltou a descer, e em 2018 atingiu o mínimo histórico de 6,4%, tendo subido entretanto para apenas 6,6% em 2019.

A ideologia de promoção do crescimento com base no consumo, que dominou os últimos anos, erodiu as reservas das nossas famílias, deixando-as particularmente vulneráveis face ao imprevisto.

Voltar a Análises e Políticas – A Economia Portuguesa em tempos de Covid-19

ALTA DIGITAL