Skip to main content

Pandemia atingiu Portugal quando economia e mercado de trabalho chegavam aos níveis anteriores à crise de 2008

Autores: Joana Silva, Kamil Kouhen, Madalena Gaspar e Martim Leitão

A pandemia da COVID-19 chega numa altura em que o crescimento da economia e o mercado do trabalho estavam a recuperar os seus níveis pré-crise. O passado recente de Portugal tem sido marcado por taxas de crescimento baixas e crises económicas severas. A taxa de crescimento média da economia portuguesa foi inferior a 1% (World Development Indicators). Portugal esteve em recessão em 2003, foi particularmente afetado pela crise financeira de 2008-09 e pela subsequente crise da dívida soberana em 2011-13. 

Figura 1. Crescimento económico e taxa de desemprego em in Portugal: uma história de ciclos acentuados e contraciclidade.  (Descarregar ficheiro Excel)
Fonte: Cálculos dos autores com os World Development Indicators. 

Nos últimos cinco anos, as taxas de crescimento do PIB em Portugal foram superiores às da década anterior (2.4% contra 0.8%), impulsionadas pelo forte desempenho das exportações de bens e serviços, em que se destacou a evolução de setores como o turismo e hospitalidade. Houve uma descida constante do risco de pobreza (em dois pontos percentuais) e da desigualdade (em 12%) (INE), depois de uma evolução negativa destes indicadores durante a crise da dívida soberana. Embora o crescimento mais rápido tenha decorrido, em grande parte, duma recuperação da perda de nível resultante da crise da dívida soberana e os altos níveis de dívida pública e privada continuem a ser uma preocupação, o ano de 2020 começou com a notícia de que Portugal alcançou o primeiro excedente orçamental desde 1974 e o desemprego voltou aos níveis de 2004. Mas o início de 2020 ficaria pautado também pelo desencadear da pandemia da Covid-19. 

A pandemia da Covid-19 levou ao confinamento e fecho da atividade em momentos diferentes e com grau de severidade distinta consoante o país. Estas medidas amplificaram a retração que se estava já a verificar por reação espontânea ao vírus no emprego e no consumo privado. Uma grave crise económica está já largamente instalada. Muitas atividades económicas estão paralisadas, outras a enfrentar uma forte redução de procura ou perturbações oriundas do lado da oferta, com perspetivas de recuperação lenta nos próximos meses. A Pandemia aumentará a pobreza de forma expressiva: estima-se que esta crise levará cerca de 40 a 60 milhões de pessoas para a pobreza extrema em todo o mundo (Banco Mundial, 2020) e cerca de 500 milhões para a pobreza (Oxfam, 2020). Mas o mundo também se adaptou, dado que muitas tarefas começaram a ser feitas com recurso ao teletrabalho e a adoção de produtos e serviços digitais teve um crescimento rápido nos últimos três meses.

A recuperação portuguesa até ao momento da pandemia deve ser avaliada no contexto do princípio deste século. A taxa de crescimento real média do PIB na década passada foi de 0.8% (World Development Indicators). O crescimento de longo-prazo tem sido baixo. Portugal teve crises severas nos anos 2000. A taxa de crescimento real do PIB foi negativa na recessão de 2003, no decorrer da crise financeira de 2009, e durante a crise da dívida soberana de 2011-13 (Figura 1). Desde os anos 60, períodos de decréscimo aconteceram em três outras ocasiões: 1975, 1983/84, e 1993. Cerca de 37.5% dos trimestres entre 1980 e 2018 em Portugal foram períodos de crise, com uma duração média de 14 trimestres[1]. Nos Estados-Unidos, por exemplo, o número de crises foi semelhante, mas a duração média destas (6 trimestres) foi menor. Portugal entrou no novo milénio com uma taxa de desemprego de 3.8%. Este valor escalou progressivamente até 2009 e fê-lo dramaticamente entre 2009 e 2013, altura em que atingiu 16.2%. Em 2019, a taxa de desemprego estava de volta ao nível exibido em 2004 (6.4%).

[1] Definimos aqui uma crise como indo do trimestre em que o PIB cai para valores inferiores à média móvel do PIB dos últimos quatro trimestres até ao trimestre em que o PIB real atinge o seu nível pré-crise (Vuletin e Vegh, 2014). 

Voltar a Análises da Economia Portuguesa em tempos de COVID-19

ALTA DIGITAL