O Executivo de António Costa estima uma ligeira aceleração do crescimento no próximo ano, mas as principais instituições europeias prevêem uma desaceleração no próximo ano. Serão prudentes as expectativas do Governo?
O Governo divulgou, na quarta-feira, o esboço orçamental para 2020, que enviou à Comissão Europeia, onde antecipa uma ligeira aceleração do crescimento no próximo ano para 2%. O Conselho de Finanças Públicas mostrou ter "reservas" sobre estas previsões e o economista João Borges de Assunção alerta que este cenário parece estar "desalinhado" com o que é antecipado por outras entidades.
"O cenário do crescimento do PIB em 2% no ano de 2020 parece desalinhado com a generalidade das instituições. Que neste momento antecipam que um cenário de ligeiro abrandamento é mais plausível que uma ligeira aceleração", referiu João Borges de Assunção, que é também professor da Universidade Católica, em resposta às questões colocadas pelo Notícias ao Minuto.
O Ministério das Finanças decidiu rever em alta as projeções para o crescimento económico do próximo ano para 2%, face à anterior previsão de 1,9%, incluída no Programa de Estabilidade apresentado em abril.
João Assunção considera que a previsão do Governo parece "suportada num crescimento das exportações de 3,9%, o que nesta altura parece imprudente e não corresponde ao consenso dos especialistas", apontou.
Até porque há riscos evidentes para a economia portuguesa no próximo ano. O economista destaca a desaceleração da zona euro, a incerteza em torno do Brexit e as tensões geopolíticas. Por cá, o setor financeiro promete continuar a ser um risco. Mas não só.
"Os riscos mais importantes surgem do exterior e prendem-se com a desaceleração na zona euro, os desenvolvimentos do processo do Brexit e também os riscos geopolíticos resultantes das tensões comerciais à escala global. Em termos internos continuam os riscos oriundos do setor financeiro e de potenciais necessidades de capital e ainda dos decorrentes de eventuais desenvolvimentos adversos no setor do imobiliário", refere o professor da Universidade Católica.
Também merecem atenção os riscos políticos internos, "dada a nova configuração do Parlamento", bem como o facto de não se conhecer ainda a "orientação da política orçamental do próximo governo nem se terá apoio político suficiente".
De recordar que o documento que Portugal enviou à Comissão Europeia é um esboço considerando um cenário de políticas invariantes, pelo que poderá diferir do documento final que será apresentado depois de o novo Governo tomar posse, tal como referiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, na quarta-feira.