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Os contribuintes querem um filme que não deixe dívida, que inove para aproveitar o cruzamento ferroviário em Alverca, o aeroporto-Portela - e na margem Norte, para não precisar de ponte.

Se começarmos pela abordagem mais simples – projetos independentes – e, só depois, juntarmos as potenciais sinergias, vai ressaltar evidente o altíssimo benefício da reengenharia global assente no inovador uso de uma ilhota-mouchão/fusão aeroportuária Alverca-Portela.

1 - Como seria um filme de ação “AV-bitola europeia”?

Rodapé histórico: em 1986, quando Portugal e Espanha entraram na UE tinham o mesmo handicap da bitola ibérica. A Espanha arrancou de imediato com a rede AV em bitola europeia, primeiro pela ligação Madrid-Sevilha (470km), que abriu em 1992 na Expo-Sevilha. Hoje, a Espanha tem a mais extensa rede europeia, já perto de 4.000km

No guião do filme retrospetivo, Portugal dá prioridade à ferrovia e, por ocasião da Expo em Lisboa (1998), inaugura a ligação AV Lisboa-Porto (320km), altura em que arranca com AV Lisboa-Madrid, que abre em 2005 e, em sequência, avança depois a ligação Porto-Vigo.

1.1 - Traçado AV Lisboa-Porto, de norte para sul: sai do Porto por nova ponte sobre o Douro (como a existente), passa por Leiria, passa pela BA Ota e 3 km depois, o momento alto do filme: os gastadores (mas que não pagam bilhete) querem, a qualquer custo, que se vá em frente e se fure os montes até Lisboa; os contribuintes (que pagam a fatura) dizem que é melhor inovar para poupar.

O realizador, que não quer deixar dívida atrás de si, segue o conselho de inovar, engendrando um bypass: vira à esquerda, atravessa para o outro lado do rio numa ponte baixa e curta, segue 15km para sul em terreno plano, regressa à margem norte enquanto o rio é estreito (para a ponte ser também baixa e curta) e, a seguir, a magia, em Alverca salta para um tapete-voador (uma ilhota-mouchão) e vem de boleia até Lisboa.

1.2 - Traçado AV Lisboa-Madrid (troço nacional Lisboa-fronteira), de leste para oeste: sai de Madrid, vira primeiro para sul (Toledo) e depois para Badajoz, onde atravessa a fronteira, passa por Évora, passa por V. Novas e 4 km depois chega outro momento alto do filme: os gastadores querem que se atravesse o larguíssimo estuário até Lisboa com uma ponte alta e extensa, não interessa quanto custe; os contribuintes dizem que é melhor inovar para poupar.

O realizador escolhe inovar, vira um pouco para norte e atravessa o rio onde ele já é estreito usando a mesma ponte do bypass Lisboa-Porto (a que fica mais a sul) e, a seguir, a magia, salta para um tapete-voador (uma ilhota-mouchão) e vem de boleia até Lisboa.  

1.3 - O final feliz: os dois traçados casam em Alverca e o casal usa o mesmo tapete-voador para vir até Lisboa. E com o dinheiro que poupam, levam uma vida despreocupada.

2 - Como seria o filme de ação “aeroporto-2025” depois de já feito o desvio de tráfego AV

No guião do filme, a rede AV já teria mais de 600km (Lisboa-Porto/Lisboa-Caia/Porto-Valença) e o desvio de tráfego aéreo consolidado para a rede AV rondaria 6-8M. Deste modo, o aeroporto de Lisboa atingia agora 27M (em vez de 34) e o realizador seria questionado, neste contexto, sobre o tipo de filme.

2.1 – Os gastadores (o dinheiro é de outros): querem um filme de fantasia, o tráfego vai chegar a 150 milhões e, mesmo com rede AV, é preciso um mega aeroporto de raiz na margem sul, a mega ponte Chelas-Barreiro para lá chegar e fazer um desvio no AV Lisboa-Porto para lá passar.

2.2 - Os contribuintes: têm nas mãos a previsão atualizada da EUROCONTROL (dezembro 2024) que indica que até ao ano 2050 Lisboa vai subir de 27M para +/- 47 milhões . Querem um filme que não deixe dívida atrás de si, que inove para aproveitar o cruzamento ferroviário em Alverca, o aeroporto-Portela e que seja na margem norte para não precisar de ponte.

2.3 – O final feliz: o realizador aproveita tudo o que existe, através de uma inovadora fusão do aeroporto na Portela com o aeroporto em Alverca que usa, tal como a rede AV, a ilhota-mouchão.  E poupam-se mais de 15 mil milhões € para fazer muitas outras coisas que são necessárias.

Não compliquemos o que é simples.

Quando pensamos só na Alta Velocidade, é por demais evidente que usar a ilhota-mouchão para a entrada-saída das ligações a Lisboa é a melhor solução. É muito mais barata e mais rápida.

Quando, só depois, juntamos à equação o aeroporto, é também por demais evidente que a solução está na ampliação da BA Alverca usando a ilhota-mouchão. A capacidade da fusão Alverca-Portela vai a 100 milhões de passageiros, o que é mais do que o aeroporto de Lisboa alguma vez precisará.

Por fim, mas não por último. Os espanhóis lançaram as mãos à obra na Alta Velocidade em 1986 e estão quase a concluir a maior rede de bitola europeia. Quarenta anos depois, em Portugal, país que até fica numa extremidade da Europa, ainda se está na fase de querer fazer relatórios para convencer a UE que a bitola ibérica pode ser uma solução provisória. E se, em vez de se encomendarem relatórios complexos e potencialmente turvos, se perguntasse simplesmente aos portugueses se querem ter já e de raiz a mesma bitola que os espanhóis?

Sente-se que o país está farto de andar a “ver passar comboios” em bitola que se diz “provisória”. Em 2002, trocámos o escudo pelo euro, mas, em 2025, pasme-se, ainda hesitamos em trocar a bitola para europeia. Estamos na moeda única, mas hesitamos na bitola única. 

Sente-se também  que o país está farto do reviralho entre um novo e longínquo aeroporto de raiz e uma solução-dual próxima. Para desempatar, tem agora a possibilidade de um inovador aeroporto único por fusão de dois existentes, o qual terá a passagem das duas bitolas à porta (Alverca) e entrada-saída a 5 km do centro (Portela).

O produtor (Portugal) pode montar dois filmes, mas, como o orçamento é reduzido, ainda vai a tempo de, com pouco dinheiro, montar um só filme e com ele ganhar o óscar do melhor filme aeroferroviário.

Luís Janeiro, Professor da CATÓLICA-LISBON