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O feiticeiro de Oz

Sábado, Setembro 8, 2018 - 08:27
Publicação
Diário de Notícias

Dorothy Lusitânia vivia num lindo jardim à beira-mar plantado, com os seus tios e o cãozinho Totó. Um dia um grande ciclone, chamado Troika, arrancou a casa, com a rapariga e o cão, e levou-os até à maravilhosa Terra de Oz. Quando a casa pousou, esmagou a Bruxa Má do Oeste, chamada Crise, e todos aclamaram Dorothy como salvadora. A jovem agradeceu o acolhimento, mas disse que só queria voltar para o seu jardim e os seus tios, para ser tudo como era antes da troika.

Então a Bruxa Boa do Sul, chamada Europa, que entretanto apareceu, disse-lhe que a única maneira de o conseguir era ir pedir ajuda ao Maravilhoso Feiticeiro de Oz, o Grande e Terrível, que vivia na Cidade Esmeralda, no fim da estrada dos tijolos amarelos.

Pouco depois de começar a viagem, Dorothy e Totó encontraram um Leão, que rugia majestosamente e a rapariga perguntou-lhe se ele queria ser primeiro-ministro; mas ele respondeu que não tinha coragem, porque lhe faltava a maioria. Dorothy pensou um pouco, e sugeriu que o melhor era irem pedi-la ao Maravilhoso Feiticeiro de Oz, o Grande e Terrível, que vivia na Cidade Esmeralda, no fim da estrada dos tijolos amarelos. Ouvindo isto, o Leão ficou muito contente e decidiu acompanhar a jovem.

Pouco adiante, os três encontraram o Homem de Lata, que não tinha coração, e a Mulher de Palha, que não tinha cérebro. Dorothy perguntou-lhes se eles não queriam fazer uma maioria com o Leão, mas eles lamentaram-se por lhes faltar aqueles órgãos, tão essenciais à governação. Depois de conversarem um pouco, decidiram ir os cinco à Cidade Esmeralda, no fim da estrada dos tijolos amarelos, pedir ao Maravilhoso Feiticeiro de Oz, o Grande e Terrível, tudo aquilo que lhes faltava.

Depois de muitas aventuras, quando chegaram à Cidade, quiseram ir logo à presença do Grande Oz. Mas o Guardião dos Portões disse que só podiam passar se tirassem uma selfie com ele, e usassem os óculos verdes, para não serem cegados pelo brilho esplendoroso da Cidade Esmeralda.

Quando finalmente entraram no grande salão do Feiticeiro, viram, sentada no trono, uma figura gigantesca e assustadora. Depois de cada um ter feito o seu pedido, o Maravilhoso Feiticeiro de Oz, o Grande e Terrível, disse-lhes que concederia tudo o que eles desejavam, e ainda iria também reduzir os impostos, repor rendimentos e aumentar as despesas e o crescimento económico. Dorothy perguntou como era possível fazer tudo isso ao mesmo tempo. O Feiticeiro respondeu que era a magia da política de rejeição da austeridade. No entanto, a condição para conseguirem tudo isto era os cinco amigos matarem a Bruxa Má do Norte, chamada Ângela, porque ela exigia que o défice fosse inferior a 3%.

Dorothy e os amigos foram então para norte, para a terra da Bruxa Má. Esta, quando os viu aproximar, com o seu olho telescópico, mandou o exército de macacos alados para capturá-los. Apesar de lutarem bravamente, foram todos aprisionados e levados para o palácio da Bruxa Má do Norte. Chegando lá, esta disse que os ia meter no terrível calabouço negro da dívida pública, mas Dorothy despejou um balde cheio de liquidez do Banco Central Europeu na cabeça da Bruxa e ela derreteu-se. Todos aclamaram Dorothy como salvadora e a jovem agradeceu o acolhimento, mas disse que queria voltar ao palácio do Feiticeiro, para ele a ajudar a regressar a casa. A Bruxa Boa do Leste, chamada Caixa Geral de Depósitos, que entretanto apareceu, disse que também ia com eles, porque tinha umas coisas a pedir ao Feiticeiro.

Quando voltaram à sala do trono do Maravilhoso Feiticeiro de Oz, o Grande e Terrível, não viram ninguém. Ouviram apenas uma voz muito potente perguntando o que queriam. Responderam que pretendiam o cumprimento de tudo o que ele prometera, dando coragem ao Leão, um coração ao Homem de Lata, um cérebro à Mulher de Palha e o regresso de Dorothy e Totó ao seu jardim. Além disso, lembravam-lhe que garantira reduzir impostos, repor rendimentos, aumentar despesas e o crescimento económico.

A voz do Feiticeiro não teve tempo para responder, porque nessa altura o cãozinho Totó chocou contra um pequeno biombo que havia num canto da sala, que desabou. Com o barulho, todos olharam nessa direcção e viram um homenzinho sentado junto a um microfone. Quando perguntaram quem ele era, o homem explicou ser um pobre professor de Economia que tinha chegado a Oz há muitos anos. "Então não é o Feiticeiro, maravilhoso, grande e terrível?", perguntou Dorothy. "Schiu! Fala baixo, senão arruínas-me", disse o economista. "Eu não tenho poderes. Só consegui reduzir os impostos, repor rendimentos, aumentar as despesas e ter o menor défice da democracia cortando nos gastos de funcionamento dos serviços. Por que razão achas que os hospitais, tribunais, escolas, comboios e tantos outros sectores não funcionam? Mesmo o crescimento, é todo puxado pela economia externa."

"E não tem medo de ser descoberto?", disse Dorothy. "Ah!", respondeu o economista a sorrir. "Não há problema, porque em breve vem aí outro ciclone Troika e tudo a voa outra vez."

 

João César das Neves, Professor Catedrático da CATÓLICA-LISBON

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